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#você não está sozinho

  • Foto do escritor: Zalmir Silvino Cubas
    Zalmir Silvino Cubas
  • 7 de mar. de 2022
  • 5 min de leitura

Uma campanha foi lançada essa semana pela Associação Brasileira em prol da Saúde Mental na Medicina Veterinária @ekoavet nas redes sociais pela prevenção ao suicídio de médicos veterinários. A síndrome burnout ou síndrome do esgotamento profissional é um tema frequentemente discutido, por ser nossa profissão uma das mais suscetíveis a doenças psiquiátricas. Esse breve texto tem a finalidade de incentivar os colegas ao engajamento em discussões sobre o tema e ao apoio a pessoas que se encontrem em condições de vulnerabilidade psicológica.


Segundo o CFMV, em seu portal, levantamento pelo SUS indica que o risco de suicídio é 10 vezes maior na classe médico-veterinária que na população em geral. Um artigo científico nos Estados Unidos aponta a mesma tendência (Suzanne E. Tomasi; Ethan D. Fechter-Leggett. Suicide among veterinarians in the United States from 1979 through 2015. JAVMA, vol 254, issue 1, 2019). Disponível em: https://avmajournals.avma.org/view/journals/javma/254/1/javma.254.1.104.xml.

Aqui no Brasil, os médicos veterinários encontram condições de trabalho ainda mais desfavoráveis que por lá. Por isso, é possível que a saúde mental de nossos profissionais esteja ainda mais abalada que a de vets em outros países.


Várias são as causas que levam a essa condição patológica, incluindo a longa jornada de trabalho, a concorrência profissional desleal e acirrada, a má remuneração e os conflitos com clientes hostis. Mas, para mim, uma das causas basilares para o desânimo pela profissão e para os decorrentes distúrbios psicológicos está na percepção de que a vida profissional real não é nada parecida com a idealizada na juventude. A frustração, associada a vários fatores fora do trabalho acabam se somando e levando à perda do equilíbrio emocional e mental. Para combater isso, é preciso iniciar nas faculdades o preparo mental dos futuros médicos veterinários para a carreira e o ensino dos métodos de autoproteção.


Deixando de lado os aspectos complexos que levam ao burn out e a sua consequência mais terrível, o suicídio, quero comentar sobre medidas que podem ajudar a prevenir as crises emocionais e as doenças psicológicas. A depressão não atinge pessoas com um determinado padrão de comportamento. Todos somos suscetíveis, independentemente da idade, condição social, experiência profissional, crenças etc. Você mesmo pode se tornar uma vítima. Não pense que sua genética ou seu "pé no chão" irão protegê-lo totalmente desse distúrbio mental.


Procure ler sobre a depressão no trabalho e entenda que nosso corpo é uma unidade biológica que tem todos os sistemas interligados e que o descuido com um sistema altera todo o organismo. A mente é a mesma quando se está no trabalho, em casa ou com os amigos. A mente está sempre trabalhando, assimilando influências tanto do meio externo como interno. A síndrome do esgotamento profissional pode ser desencadeada por fatores relativos à vida laboral, mas não é só isso. Se foi a pressão no trabalho ou as dificuldades no âmbito familiar ou nas relações sociais que desencadearam o quadro patológico, é difícil determinar sem a avaliação de médicos e psicoterapeutas. Então, não é somente o trabalho que desencadeia as doenças da mente, mas uma série de fatos relativos ao modo de vida, às relações interpessoais e às emoções.



O que podemos fazer é nos instruir sobre esse tema. Antes disso, precisamos nos perceber para reconhecer em nós sinais de alterações psicológicas. Médicos veterinários, pela sua formação clínica, têm facilidade de se auto examinar. Um bom clínico percebe sinais clínicos e é capaz de dizer "isso não é normal", seja em seus pacientes, seja nele mesmo. Ao perceber sintomas, aceite que você precisa de ajuda, que a tristeza que você sente pode não ser só em decorrência do trabalho. Pense que a solidão, o medo, a vontade de largar tudo e isolar-se são sinais evidentes de distúrbio mental. Dado esse grande passo inicial, um dos mais importantes no processo de cura, você precisa buscar auxílio de psicólogo e psiquiatra.


Saiba que nessa campanha você pode ajudar um colega de profissão. Se você percebe em alguém próximo alterações de humor e de comportamento, você pode ser a pessoa chave para alertá-lo antes que algo mais grave se instale. Temos que nos ajudar mutuamente, olhar para o outro com ternura. Todos podemos contribuir para modificar o modo de vida egocentrista e indiferente que insiste em predominar em nossa sociedade moderna.


De forma preventiva, antes que você entre em um processo de desgaste emocional e físico-mental, pergunte-se o que você pode fazer para cuidar da sua saúde e o que pode fazer para alertar os colegas para essa questão. A saúde mental não é tema menor, é condição básica para você cumprir sua missão de vida. Se você reconhece o poder de influenciar e ajudar os outros, já compreendeu que você é um elemento promotor da saúde coletiva. Nesse blog passo dicas de como a gente pode manter a saúde mental e física. Requer mudanças na forma de pensar e na rotina de vida, mas dá para melhorar muita coisa.


O apego, o medo e a sensação de abandono geram sofrimento. É muito difícil não nos apegarmos a coisas, condições e pessoas, sendo o amor o elemento transformador dessa relação. Há, porém, um apego muito perigoso, que é quando nos apegamos a nossas crenças e perdemos a noção do real valor das coisas, da dimensão dos fatos e dos valores humanos. Nessa situação, o sentido da vida fica vinculado ao apego que a pessoa tem, tornando-a obcecada e desorientada. A partir daí, a instalação da doença mental é questão de tempo.


O trabalho é a experiência que dignifica o ser humano, que constrói valores, que desenvolve a humanidade. Mas o apego exagerado ao trabalho pode agir de forma contrária aos bons valores e à dignidade que o ofício nos proporciona. Nessas condições, os desapontamentos naturais que surgem na vida profissional podem desencadear processos de estresse que evoluem para frustração, ansiedade e depressão. Por isso, cuidado com os excessos. Busque sempre o equilíbrio em tudo, inclusive no trabalho.


Você deve ficar atento sempre que os seguintes sentimentos ou situações surgirem em sua vida. Você está vivendo quase que exclusivamente para o trabalho; você fala que não tem tempo para outras atividades; você está obcecado por ganhos financeiros; você está muito ansioso para chegar a um nível profissional de excelência que é normalmente atingido depois de muitos anos de estudo e aprendizado. Se você está alucinado por reconhecimento, por uma rápida projeção social ou pela vaidade, você precisa encontrar tempo para meditar e refletir sobre seus sentimentos. Se você sente-se sozinho e cansado, se não vê graça nas coisas simples e agradáveis da vida, se não sente vontade de conversar, praticar atividades recreativas, viajar e estar em ambientes tranquilos e junto à natureza, você precisa de avaliação médica e aconselhamento. Se você passou por uma frustração emocional, está com sua autoestima baixa e sente-se irritado, com raiva, desmotivado, triste, você precisa definitivamente de ajuda amiga e profissional.


Você não está sozinho. Nós não estamos sozinhos, mas precisamos perceber isso. A primeira ajuda tem que partir de nós mesmos, que é reconhecer em nós mudanças que não nos conduzem a uma vida produtiva e feliz. Vamos nos ajudar mutuamente. Você pode ajudar alguém. Preste atenção nas pessoas a sua volta, fale coisas dignificantes, dê bons conselhos, aja construtivamente, ofereça ajuda. A saúde mental é essencial para todos e para a sociedade como um todo.








 
 
 

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